26/01/2012

trago em jazz.

trago em jazz
sem dó
os beijos mordidos ditam seus passos
sua dança vem embriagada
você se esparrama na cama
como quem peca esperando punição.


nosso inferno é céu


duas e trinta e quatro da manhã
sou o rei de seu castelo empoeirado
pelas lembranças amargas de gaveta
é passado, bem passado.


façamos à mão livre
a correspondência completa de nossos corpos


sem arrependimento.


arranhe minhas costas
que te faço faca amolada
um, dois, três
jazz em blues


nós dois somos
jazz em blues.

24/01/2012

Houve uma vez um carnaval

Era sexa. A Cinelândia abrigando milhares de pessoas,  era sexta-feira  que antecedia o carnaval. Estava pela Lapa, bebeu algumas cervejas, viu o movimento, tudo sozinho, porque assim que ele gostava de fazer. Passou por diversas pessoas, brindou, reparou em algumas moças, mas a volta para casa se fazia necessário. Era Praça XV, era ponto final. Os ônibus  sumiram com os confetes jogados pelos foliões sedententos.


Avistou uma moça, pelo lindo e jovial rosto parecia se encontrar na casa dos seus vinte e bem poucos anos, estava com um amigo, que logo se foi, no fundo percebeu que o rapaz recém-chegado naquele terminal finalmente a encontrou. O silêncio e alguns olhares rápidos aguçavam um início de algo, afinal eram os únicos naquele lugar, puxaram o assunto mais óbvio, por iniciativa dele: "Está muito tempo esperando aqui?", pronto, era início. O sorriso dela era doce e seus cabelos  pareciam um bom ninho para os dedos deitarem em afagos.


Conversaram por horas, por obra do carnaval ou destino, aquele ônibus tardava a chegar, naquele ponto falavam do trivial, passando por Nietzsche, o cinema, a música até num determinado momento, não por falta de assunto, mas pela aproximação das palavras, gestos, olhares, ficaram perto demais um do outro, tudo da forma mais natural.


Esqueceram qualquer regra de convivência ou etiqueta, se beijaram como se não houvesse quarta-feira de cinzas. Houve encontro marcado nos dias oficiais do carnaval, aqueles dois resolveram seguir o bloco, entre cervejas em Copacabana, retratos, beijos com gosto de uma liberdade jamais achada e os corpos cansados de tanto se achar num velho colchão que aqueles dois eram genuinamente dois.


O carnaval passou, alguns encontros mais aconteceram, assim como os desencontros e como todo caranaval que no fundo não tem fim para alguns, houve o reencontro da forma mais natural e inesquecível, após anos, acontecimentos, outros carnavais sem graça alguma, porres e desamores. Afinal, como esquecer do melhor carnaval de sua vida? De seu melhor amor de carnaval?


Era reencontro. Ele nervoso por um dia importante, ela pegando sua mão como disesse "estou aqui.", estavam maduros, como todo bom reencontro tem de ser. E entre cervejas na Lapa, surge um escrito de guardanapo de bar, escreveu como se não houvesse quarta-feira de cinzas, afinal aquele carnaval jamais acabou para aqueles dois.

17/01/2012

brincadeira fora de época

seu olhar sacana
arranha céus
me embriagando 
em doses certeiras
seu cabelo cobre minha cicatriz do peito 
minhas mãos tentam controlar suas curvas
você não me deixa frear
quero morrer jogado em seu abismo
ter a certeza que um dia foi minha
mesmo numa noite quente no carnaval fora de época.

16/01/2012

III

na fotografia
que guardo escondida
seu olhar de ressaca me desfoca.

13/01/2012

nota

 Amigos, o conteúdo é o mesmo, só mudou o nome e endereço.

 Bem vindos aos meus tragos e estragos.

12/01/2012

trago a pessoa amada em três dias.



a noite chuta corações moles
o céu está nublado
noir
lobos solitários procuram presas
perdidas em becos
o sax toca alto
luzes vermelhas chamam
os amantes de plantão
brotam 
é free jazz
tragos mal amados
devolvem corpos em três dias.

09/01/2012

prólogo

 tem vinho. o relógio marca zero e vinte e um. aqui os ecos surgem, palavras voadas sem pegar no ar, não há porque fazer isso, pelo menos agora. suas costas brancas e nuas contrasta com o preto daquele retrato que te rasgo com o olhar. tem vinho. o relógio marca zero e vinte e três e você continua sentada na cama olhando para duas janelas vazias.

e cá estou, nessa vida de gato bandido.

03/01/2012

21/12

luzes da cidade
tudo acontece lá embaixo
avisto casais se esfregando como animais esfomeados
quebra mar de tempo jogado
porque eu tenho 1001 motivos para jogar tudo para o alto
e sambar torto em cima de tudo
é papo de poucos caracteres.
volto para meu ponto
"mais uma, minha amiga."
não peço água de coco em quiosque
do meu forte vejo tudo
imagino seres se encontrando com paixão
outros se matando por amor
e milhares trepando sob a luz da lua ou vermelha.
o calor no rio me faz afogar na cerveja
espero o amanhecer aparecer, é ipanema
chega o momento
entre cantarolar torto e "my funny valentine" sendo tocado
tomo o sol em retrato
guardo no celular
para um dia saber
que tive meu último dia de primavera
virou luz, verão.



(rio de janeiro, 21 de dezembro de 2011)

01/01/2012

primeiro poema de primeiro de janeiro do novo ano.


o quarto de tempo
marca novo ano
meus pés tocam nas latas vazias
um silencioso primeiro de janeiro
é ano novo
o passado foi bem passado, obrigado por lembrar.
o barulho da chuva caindo no asfalto se mistura com os fogos
ainda tem gente que não entrou no novo ano.
escrevo em silêncio, achando silêncio
vozes vindo de longe, gritos de crianças histéricas e as vezes algum silêncio
“silêncio, no hay banda”
muito menos uma música para acompanhar, silêncio.

não arrumei a cama, está intacta
com as marcas de um corpo pesado de exageros
era fim de ano, agora começo e tudo é algum recomeço
o relógio vai marcando
tic-tac...
olho para os livros, não vejo referências
lembro de Manoel em um filme, ele disse:
“a razão é a última coisa que deveria entrar na poesia”
e o que entra aqui?
pobre engano.
“sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagem e estará sujeita a cobrança após o sinal.”
ponto. é ano novo.