19/08/2013

segunda.

o silencioso vento da noite na segunda-feira, traz calma.
é como 1991, quando estava aprendendo a contar estrelas.

01/08/2013

27/07/2013

das vadias do coração.

quer gritar sem ser histérica
e por quê não ser feminina?
quer ser a chefe de família
e por quê não ser o homem da casa?
quer dar o direito
e por quê não ter direito?
quer ser de um, de muitos
e por quê não de uma, muitas?
quer ser abortada
e por quê não abortar?
quer ser representada
e por quê não representar?
quer ser vadia
e por quê não vadiar?

24/07/2013

dentro da noite escura, há um grito na cara do absurdo surdo.
os gatos miam no meio da neblina do beco . uma garrafa é quebrada, um som é rompante no meio da madrugada fria, interrompendo o sono dos ratos.
dentro do aquário, escuto jazz de segunda-feira. é trilha sonora de uma tarde de céu nublado.

05/07/2013

das dores do mundo.


quebram taças
despedindo em ré
deixando choros sem dó
e algum lugar, acolá, ali, lá
há uma flor morrendo de dor
o sol nasce no meio do nublado do mundo
sem ninguém ver seu rosto
morimbundo pelos dias
cansado pelas mortes do peito rasgado
do amor esmagado como um chocolate pisado no asfalto
e ainda por cima, depois dissso tudo
 há uma flor morrendo de dor.

02/07/2013

calada da noite, calada.

toda noite é
calada
escuro dos olhos
silenciam lágrimas
em chamas
o grito preso
gás lacrimogênio
e bombas armadas
de amor desgostoso.

11/06/2013

urca

vamos morar na urca?
eu caminho em desventuras pelas ruas
no meio de pescadores e churrasquinho na calçada
sorrisos e namoricos na pracinha
você reclama daquelas bonecas em janelas
analisamos arquitetura das casas
encontramos uma pequena igreja, ironia
e quando olharmos para ontem, iremos fazer aniversário
a urca é nossa
por direito e comunhão total de bens.


04/06/2013

já foi sexta.

é alta noite
virando sexta para sábado
nos encontramos na inválidos
quebramos na resende
entre cigarros e beijos cheios de calor
depois é perdição em outra rua
só carinho e uma boa reza.

mais para frente tem nicotina, algumas palavras e mais vontades
mais marcas, mais.


te mordo
escoro seu corpo na parede
pego sua mão
jogo contra a minha
lábios encontram marcas
de leve, leve
arranhões que salvam o corpo
meu peito arde em tocar nos estragos que me fez
seu banho quente desmorona de vez sua pele branca que marquei
achamos línguas
bailando num tesão sem escala
minha barba passeia em seu rosto
meu cheiro fica em diminutivo
te pego
com uma vontade que é recíproca
principalmente quando falo a palavra-chave
vem cá, vem
você vem
eu vou
aqui e ali
o "até logo" na esquina tem mais
você levando meu jeito
eu carregando alguns fios de seu cabelo preto em minha barba
o dia tá raiando, já foi sexta.


*escrito em 28/05/2013

vazio

o quarto está vazio
os quadros estão vazios
a janela está vazia

o vazio diz.

22/05/2013

algum inverno para chamar inverno.



 inverno,

 uma vez houve um momento que segurava a xícara de café e o olhar horizonte era temível. o céu nublado deixava tudo tão confortável, o frio bate como um tapinha maroto na cara, os olhos abaixavam automaticamente, só restava o chão molhado como alternativa de um espelho, já que naquele quarto não havia sequer um reflexo que chamasse de seu. os ventos acenam e assoviam enquanto tudo está longe, inclusive o corpo, apenas existe os olhos percorrendo o nada e tentando achar um frio que na verdade não existe, é fruto da imaginação. apenas uma punheta mental, afinal, morar em uma cidade que o frio chega aos 20 graus,é um tanto desejar potinho mágicoonde não tem. por quê então a boca treme quando o choro corre no jovem rosto que ainda tem?


o frio as vezes cega.

21/05/2013

dilúvio

eu que não sabia sobre o dilúvio, torci uma nuvem de lágrimas.

até ficar seca.
o quarto escuro não tem mapa, muito menos sinalizador que deixe qualquer solidão com uma esperança de resgate. as pessoas vagam como se tudo fosse automático, não se pensa mais, não se lê, muito menos enxergam da maneira como deve ser, tudo é metrópolis. dentro do quarto de tempo que escorre entre as paredes geladas, não dá para ter uma estratégia, vai pelos sentidos, como aquela brincadeira de gato mia que muito se brincava na época dourada de criança, mas aqui não estamos falando de malícia e sim da sobrevivência, do tato que ao pressentir ou sentir algo, seja agarrado com força. não se enxergam os gritos, muito menos a bela sinfonia do desespero, sufocado em andrajos e desfigurando a palidez, tudo é escuro. o fundo é abissal, chega ser escandalosamente desesperador, os olhos ardem e a respiração vai cessando, cessando e cessando. o coração bate como susto após um terrível pesadelo com monstros e pessoas, na quais se misturam numa orgia que pasollini teria inveja, ou quem sabe, calígula. escuro, tão escuro que os medos se estendem, os calafrios ficam mortais e as lágrimas sangram de dor. os cortes pelo corpo já são inevitáveis. e por coisas da vida, esbarrões nas ruas ou palavras pontuadas, surge uma luz que cega os olhos propositalmente, uma porta secreta se abre, uma outra região é descoberta, um sentimento confortável de sofá. é paz sem dor, sem tubos, sem flores mortas pelo tempo cansado de tentar o vão. enquanto muitos ficam nesse quarto apagado que sempre foi escuro, outros encontram limbos que cegam os olhos, dentro de uma fragilidade bonita. e ao surgir essa luz, tudo fica bem e também tudo vira clichê, daqueles de novela das 6 até espíritas, de vidas passadas.

mas tudo fica bem.

para ana c.


seu véu, como a sua pele cor de pérola, ainda desfila pelos oito andares que nos deixou.