22/05/2013

algum inverno para chamar inverno.



 inverno,

 uma vez houve um momento que segurava a xícara de café e o olhar horizonte era temível. o céu nublado deixava tudo tão confortável, o frio bate como um tapinha maroto na cara, os olhos abaixavam automaticamente, só restava o chão molhado como alternativa de um espelho, já que naquele quarto não havia sequer um reflexo que chamasse de seu. os ventos acenam e assoviam enquanto tudo está longe, inclusive o corpo, apenas existe os olhos percorrendo o nada e tentando achar um frio que na verdade não existe, é fruto da imaginação. apenas uma punheta mental, afinal, morar em uma cidade que o frio chega aos 20 graus,é um tanto desejar potinho mágicoonde não tem. por quê então a boca treme quando o choro corre no jovem rosto que ainda tem?


o frio as vezes cega.

21/05/2013

dilúvio

eu que não sabia sobre o dilúvio, torci uma nuvem de lágrimas.

até ficar seca.
o quarto escuro não tem mapa, muito menos sinalizador que deixe qualquer solidão com uma esperança de resgate. as pessoas vagam como se tudo fosse automático, não se pensa mais, não se lê, muito menos enxergam da maneira como deve ser, tudo é metrópolis. dentro do quarto de tempo que escorre entre as paredes geladas, não dá para ter uma estratégia, vai pelos sentidos, como aquela brincadeira de gato mia que muito se brincava na época dourada de criança, mas aqui não estamos falando de malícia e sim da sobrevivência, do tato que ao pressentir ou sentir algo, seja agarrado com força. não se enxergam os gritos, muito menos a bela sinfonia do desespero, sufocado em andrajos e desfigurando a palidez, tudo é escuro. o fundo é abissal, chega ser escandalosamente desesperador, os olhos ardem e a respiração vai cessando, cessando e cessando. o coração bate como susto após um terrível pesadelo com monstros e pessoas, na quais se misturam numa orgia que pasollini teria inveja, ou quem sabe, calígula. escuro, tão escuro que os medos se estendem, os calafrios ficam mortais e as lágrimas sangram de dor. os cortes pelo corpo já são inevitáveis. e por coisas da vida, esbarrões nas ruas ou palavras pontuadas, surge uma luz que cega os olhos propositalmente, uma porta secreta se abre, uma outra região é descoberta, um sentimento confortável de sofá. é paz sem dor, sem tubos, sem flores mortas pelo tempo cansado de tentar o vão. enquanto muitos ficam nesse quarto apagado que sempre foi escuro, outros encontram limbos que cegam os olhos, dentro de uma fragilidade bonita. e ao surgir essa luz, tudo fica bem e também tudo vira clichê, daqueles de novela das 6 até espíritas, de vidas passadas.

mas tudo fica bem.

para ana c.


seu véu, como a sua pele cor de pérola, ainda desfila pelos oito andares que nos deixou.